FIM DE TARDE

FIM DE TARDE

         A menina havia esperado um dia inteiro

Não havia colo ou mamadeira que a fizesse aquietar seu coração. Por mais que as tias se esforçassem, não conseguiam contentar a menina.

Está com manhã diziam. Filha única de pais honestos e trabalhadores. O pai trabalhava o inteiro. A mãe também. Afinal, era preciso garantir o futuro da menina.

Desde bebezinho, a menina era acostumada a ser olhada por estranhos. Gente de confiança, mas estranhos, que não eram o sangue da mãe, não tinham a beleza e o sorriso da mãe. Por isso que ela desde muito cedo, aprendera a disputar a mãe com os outros e, ato continuo, quando a mãe  a deixava na escola, nem sempre a despedida era tranqüila, pois a menina, as vezes, fazia um show para não desgrudar da mãe. Quando ela retornava, a tarde, a menina se atirava nos seus braços pedindo teta e, a moça, num gesto de amor, amamentava a menina a olhos de todos, em qualquer lugar.

Dia desses, encontrei essa mãe.

A cena era a mesma. A menina chupetando o seu seio tentando sugar um pouco do leite materno que ainda restava dela e, a outra, acarinhando a filha. Em dado momento, a menina se desgarrou da mãe e saiu correndo, ela foi atrás, uma, duas, três vezes, e toda a vez que a mãe agarrava a menina, gritava, “para com isso, olha a rua, não se jogue no chão, tem cocô de gato”, até perder a paciência e dar dois tapas no bumbum da menina. Ato no qual, a menina chorou copiosamente nos braços da primeira pessoa que viu a sua frente: eu.

Talvez o que essa mãe não saiba, é que para a menina o mais importante, não era ser sapeca, não era mamar, ou chamar atenção da mãe, nada disso. Era a sensação de ser alcançada por aquela quem sempre trouxe segurança e proteção, sensação de experimentar ser elevada ao alto pelos braços e saber que mesmo que ela corra em direção ao infinito, a sua mãe sempre estará por perto protegê-la…….

São Carlos 14/042010